Encerrando mais um ciclo

Minha reabilitação no IMREA-Lapa já está no fim. Esta será a última semana. É o fim de um ciclo, mas o início de outro. 

Chorei muito, desabafei, superei desafios, desafiei dores, desequilíbrios e tonturas, alcancei metas. Conquistei independência. Me conscientizei sobre minhas limitações. Mas a principal mudança foi o renovo da minha fé.


  Estação da CPTM quase dentro do IMREA                

São muitas as pessoas com problemas. Muitas são as dificuldades, angústias, depressões, tristezas. Mas constante não é a dor, é a busca por dignidade e cidadania. 

Sou grata a todos os profissionais que me atenderam. Grata aos que sempre tinham uma palavra de carinho, uma brincadeira. Obrigada a vocês, da coordenação de reabilitação, ao povo da recepção. Beeeeel...já estou com saudade de você, flor. Vai cuidar desse olho!!! 

Agradeço a minha fisioterapeuta Caroline Fioramonte que testou meus limites e me mostrou o que é um profissional criativo. O enfermeiro Jefferson Jr que marcou pela amizade, cumplicidade e empatia. A fisiatra Tamira Terao que me transmitiu segurança e paz nos diagnósticos. O que dizer então da minha psicóloga, Camila Vasco, que entrou pela porta da minha alma. 


Corredor de entrada do IMREA-Lapa

Desde que minha alta foi anunciada, venho pensando nessas pessoas. Nos amigos que fiz, nos carinhos que recebi. A cada gesto no meu dia a dia, seja de estender roupa no varal ou guardar uma louça, lembro da minha TO, Thais Bastos. Quanta paciência ela teve.

A sensação é de ser expulsa de um ninho, de ter a certeza da queda. Não consigo mais dormir e quando durmo tenho pesadelos. Agora por exemplo, já são 6h40 da manhã e não preguei o olho. O dia está claro e meu filho já está pronto para a escola. 

Não sei se é pânico ou pavor; pavor da rejeição, do desemprego, de ser cobrada por algo que não posso dar. Pavor de ficar sem renda, de não conseguir sustentar o filhote, de perder a carreira que construí durante 18 anos. Esse é o sentimento, mesmo com o apoio da Harumi, Danielle e Camila que tentaram me acalmar.   

Eu precisava diminuir o ritmo. Mas deixei a carreira falar mais alto. Alimentei um monstro e hoje sofro as consequências. Fiquei com sequelas sim, fiquei lentificada, mas quem olha pra mim não nota nada. Sou deficiente física pela lei e tenho dificuldades de deficiente, mas não tenho aparência de deficiente. Já quiseram me expulsar de um banco no metrô, já quiseram me retirar de uma fila no banco. Já fui abordada por fiscais no metrô. Já fui questionada por cobradores em ônibus. Já fui humilhada no INSS e em posto de saúde.


Área interna do IMREA-Lapa. Área da fisioterapia.

Muitos medos tive de enfrentar e até agora superei todos. Medo de faltar dinheiro, de geladeira vazia, de solidão. Medo de cair, de passar vergonha, de chorar em público. Muita coisa já passou, a onda do tsunami já foi, mas agora sinto o repuxo...acho que é pior.

Sou e estou ativa, apesar de não me sentir assim. Fui tão bem cuidada e protegida quando fiquei no hospital, no HC. Desfrutei de ambientes tão calmos e de bem estar, que agora tenho pânico da multidão no metrô, do empurra empurra, de lugares lotados. Há alguns dias me aventurei na Ladeira Porto Geral. 

Lembrarei com carinho de profissionais como a Laís e a Marina, que me proporcionaram orientações na área de fono e nutrição (respectivamente). Orientações que continuarei seguindo creio que por muuuuuito tempo. 

E por fim, a despedida mais cruel. O adeus ao povo do condicionamento físico. Léo, Lê, Cris, Mamão, Susana. Pessoas que acreditam na superação de limites, que acreditam sempre e de forma inabalável no resultado positivo. Como pode haver um pessoal assim tão positivo? Nunca havia conhecido isso.

Sempre me relacionei bem por ondei passei. Mas poucas pessoas ganharam meu coração, minhas orações, meus pensamentos. Da minha parte o IMREA-Lapa virou uma família. Mas sei que do lado de lá não é bem assim. Tem profissionalismo envolvido. Mas creio, que esse lugar é um ser vivo. Esse adeus é cheio de esperança, de que dentro da chamada humanização, bate um coração amigo e vive uma alma genuína.