Vamos conversar?

Há tanta beleza na arte de conversar. Pessoalmente, é mais lindo ainda. Mas onde estão os momentos de chá com bolo das grandes amigas? Onde estão os almoços de domingo com a grande família reunida? Há até postagens com dicas para aproximar as famílias. O que anda acontecendo?

A grande família feliz existe? Ou só encontramos assim em desenho?

A cada dia o tamanho da família é reduzido. A família está sendo engolida pela tecnologia. Será que a verdadeira função da tecnologia está sendo cumprida? Ao invés de usar a tecnologia para facilitar a vida diária, o ser humano a está usando para se esconder, para se proteger, para evitar a exposição. O costume errôneo dos pais se reflete em filhos tímidos, acanhados e comedidos. Logo, encontramos casamentos que acabam em silêncio e depois que acabam, por causa dele. 

Algumas pessoas já não sabem mais conversar, nem argumentar ou se expressar. A televisão mata diariamente as janelas de cada casa. Somos nós, os verdadeiros tamagotchis nas mãos de modernos celulares que administram a vida humana com seus milhares de aplicativos. As pessoas não se olham mais. Basta entrar num vagão do metrô e analisar o comportamento quase bestial – sinceramente - não parecem seres humanos; encontramos uma nova espécie. Lendo, dormindo, mexendo em algum eletrônico portátil ou simplesmente olhando para o nada. Já vi seres dessa espécie até fazendo crochê no metrô. Já os vi escondidos atrás de imensas folhas de jornal. 

A cada dia, a cada década, a cada século, a cada tempo aumenta mais a interação do ser humano com projeções; sim, projeções. Antigamente, eram famílias caladas que ouviam atentamente o som do rádio, depois as famílias passaram de apenas caladas a caladas e presas em novelas, muitas vezes com os pratos do jantar nas mãos, sentadas no sofá em frente à tv. 

Surgiu assim essa nova espécie; são seres ambulantes e solitários que interagem com aparelhos. Essa nova espécie já circula nas ruas das cidades com os ouvidos entupidos e ocupados, com os olhos escondidos atrás de potentes lentes. Essa nova espécie vive só dentro de si mesma e dentro de automóveis blindados. Estes seres se comunicam por email, por SMS, por aplicativos e redes vulgarmente chamadas de redes sociais; mas o que há de social nisso? Qual o verdadeiro sentido da palavra: social? 

O diálogo se perdeu, foi esquecido, abandonado, virou monólogo (como o que faço agora). Em pouco tempo a palavra diálogo poderá se tornar desconhecida. O que estamos dispostos a fazer para recuperar a arte da conversação? A conversação é um dos prazeres essenciais da vida. É ilimitada. É muito mais que o maior HD do mundo. Além de ilimitada, a arte de conversar é gratuita. Experimente conversar. Você vai gostar. 

Viver com Fé

Um programa na TV e uma pergunta à Deus: Qual foi o seu primeiro contato com a fé? No meu caso, a resposta veio simples, direta, suave e singela. A resposta que recebi veio carregada de ternura e segurança.

Imagem: internet

Vi um programa na tv chamado Viver com Fé. Já havia visto antes, mas hoje (sábado, 24.08.13) foi especial. Durante um momento no programa houve uma pergunta, "qual foi seu primeiro contato com a fé?". Na mesma hora iniciei uma retrospectiva na minha mente. Pensei no início do meu casamento. Pensei na primeira igreja em que entrei. Pensei nas orações que fiz quando o Lipe nasceu e tinha problemas no coração. Rapidamente perguntei "Deus, qual foi meu primeiro contato com a fé?". A resposta foi surpreendente.

Quase que instantaneamente me lembrei de uma casa de madeira em que vivi minha infância, num sítio em Atibaia, durante os finais de semana. Lembrei do meu quarto, da posição da minha cama. Lembrei de estar deitada na cama toda protegida do frio e bem coberta. Lembro do meu pai ao meu lado me orientando numa oração à Deus que fazíamos sempre quando eu ia dormir. Era uma pequena e simples oração em francês. Carinhosa, meiga, que mencionava Deus como 'Papai do céu'. Papa du ciel...e daí por diante. É claro não me lembrei de toda a oração, mas lembrei claramente da sensação de estar quentinha e em segurança.

Meu primeiro contato com a fé foi assim. Simples, inocente. Um pai, que era completamente ateu, ensinando sua pequena filhinha a orar. Como explicar isso? O que é sobrenatural não se explica, se vive. 

E você? Qual foi seu primeiro contato com a fé? Compartilhe conosco.

Madrugada com Deus

"O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã."
Salmos 30:5b



Eu queria muito ter tido uma mãe cristã e um pai cristão. Queria que ambos fossem usados tremendamente por Deus. Que pudessem ser felizes e que tivessem me instruído sobre a importância e o verdadeiro significado do casamento e da família; queria ter conhecido (com a devida antecedência) a beleza e a pureza de um homem se guardar para a esposa e de uma mulher se guardar para seu esposo. Queria ter tido a oportunidade de viver uma infância em segurança, debaixo da sombra do Altíssimo. Que benção seria desfrutar de toda a união, amor e paz que pode se sentir dentro de um lar cristão. Bem-aventurados são os filhos que possuem essa oportunidade!

Confesso que por vezes me senti triste por não ter tido essa oportunidade. Será que já nasci com a sorte perdida? Perdi a oportunidade de viver o amadurecimento que Deus havia planejado para mim. Como criança, como jovem e como mulher, eu queria ter desfrutado de momentos abençoados dentro da Casa de Deus, sentindo o fluir do amor ágape. Queria ter vivido bem longe da aparência e da presença do mal.

Por vezes havia sentido que havia estragado tudo; um sentimento de culpa que não me pertencia surgia em minha alma. Mas como, posso eu, ter voluntariamente estragado tudo? Desde a minha concepção o mal projetou sua sombra sobre meu destino. Eu, ainda sem forma, no útero de minha mãe poderia ter voluntariamente escolhido meu destino? Vi e vivi medo, terror, maldade, mentira, inveja, falsidade, egoísmo. Podridão fétida o suficiente para acabar com qualquer sonho de princesa.

Nascemos, crescemos e aprendemos sobre toda a maldade da qual um ser humano é capaz, tudo graças ao livre-arbítrio dado por Deus. Mas assim como existe toda a maldade possível, sobre a Terra, há também toda a bondade, toda a graça, toda a misericórdia e todo amor possível; não somente sobre a Terra, mas dentro de todo ser humano criado por Deus. A semente é a mesma, o que muda tudo é a inclinação da alma.

Mesmo que minhas cicatrizes inflamem e por vezes fiquem latentes, sinto que é sempre tempo de todo ser se reencontrar em Deus. Hoje essa é a minha oração. Podemos encontrar e conhecer nossa essência e enfim sentir alegria, paz e gozo. 

É tempo de se encontrar em Deus. Não é tempo de se perder. Não é tempo de errar. Não podemos permitir mais um único roubo que seja, mais uma única perda ou mais um erro que seja. Não há mais tempo para enganos. É hora de conquistar, de buscar, de vencer! Chega de luto pelo que já se foi, é tempo de celebrar as oportunas e gloriosas vitórias!

As palavras são o meu escape e Aquele que tudo sabe e que tudo vê me recebe com indescritível graça e empatia. Me despeço, agora, cheia da paz que excede todo entendimento.

Tudo no meio do nada

O amor em Platão é falta. O amor em Deus é tudo.

De várias e inúmeras formas sempre estive em busca do amor. Sempre ansiei ser profundamente amada, aceita, querida. Desde que eu era uma simples massa disforme no útero de minha mãe, eu busquei pelo amor. Mesmo quando eu era um inocente bebê, continuei minha busca por afeição, por carinho, por misericórdia, por compaixão, por zelo. Essa busca é intrínseca, faz parte da natureza humana, é latente, nasce com a gente.

O amor em Platão é falta. O amor em Deus é tudo. O amor em mim muitas vezes foi falta, mas nos momentos de falta, sempre pude encontrar a Deus. Mas somente quando me entregava sem medo e sem resistência, eu pude me perder no tudo de Deus, mesmo estando no meio do nada de Platão.  

Sei que de certa forma todos os que passaram pela minha vida me amaram, do modo deles, à maneira deles, na imperfeição e nos limites que prevaleciam na existência de cada um. Cada um me amou e me marcou da sua forma. Cada pessoa que foi aparecendo em minha vida, seja pai, mãe, padrasto, madrasta, namorado, colega de profissão, marido, amigos, amigas, irmãos. Cada um marcou minha vida com sua forma de amar.

Em algumas vezes recebi um amor egoísta, desonesto, falso, desumano, irracional e indescritível. Outras vezes recebi um amor fraterno e justo. Mas somente hoje reconheço, que em cada momento de falta, de ausência ou de escassez, estava presente uma chama singela, quase tímida, de um amor abundante e incorruptível, o amor de Deus, amor este que me alimentou e me sustentou. 

Tenho cicatrizes sim. Que doem e choram de vez em quando; sim claro, mas elas só são aparentes no fundo dos meus olhos, no espelho da minha alma. Minhas cicatrizes choram, mas choram de emoção, pois sempre me lembro de que foi no meio do nada que encontrei o tudo.