Tudo no meio do nada

O amor em Platão é falta. O amor em Deus é tudo.

De várias e inúmeras formas sempre estive em busca do amor. Sempre ansiei ser profundamente amada, aceita, querida. Desde que eu era uma simples massa disforme no útero de minha mãe, eu busquei pelo amor. Mesmo quando eu era um inocente bebê, continuei minha busca por afeição, por carinho, por misericórdia, por compaixão, por zelo. Essa busca é intrínseca, faz parte da natureza humana, é latente, nasce com a gente.

O amor em Platão é falta. O amor em Deus é tudo. O amor em mim muitas vezes foi falta, mas nos momentos de falta, sempre pude encontrar a Deus. Mas somente quando me entregava sem medo e sem resistência, eu pude me perder no tudo de Deus, mesmo estando no meio do nada de Platão.  

Sei que de certa forma todos os que passaram pela minha vida me amaram, do modo deles, à maneira deles, na imperfeição e nos limites que prevaleciam na existência de cada um. Cada um me amou e me marcou da sua forma. Cada pessoa que foi aparecendo em minha vida, seja pai, mãe, padrasto, madrasta, namorado, colega de profissão, marido, amigos, amigas, irmãos. Cada um marcou minha vida com sua forma de amar.

Em algumas vezes recebi um amor egoísta, desonesto, falso, desumano, irracional e indescritível. Outras vezes recebi um amor fraterno e justo. Mas somente hoje reconheço, que em cada momento de falta, de ausência ou de escassez, estava presente uma chama singela, quase tímida, de um amor abundante e incorruptível, o amor de Deus, amor este que me alimentou e me sustentou. 

Tenho cicatrizes sim. Que doem e choram de vez em quando; sim claro, mas elas só são aparentes no fundo dos meus olhos, no espelho da minha alma. Minhas cicatrizes choram, mas choram de emoção, pois sempre me lembro de que foi no meio do nada que encontrei o tudo.