Reflexão sobre o passado, perdão e recomeço
Dedico esta reflexão às pessoas que um dia desejaram viver um recomeço e fazer uma nova história.
(Essas linhas foram escritas para os dispostos a abrir mão do ego)
Se você engravidou, gerou e deu à luz a alguns ou muitos sofismas, quebre-os hoje, anule-os agora.
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Me lembro dos tempos de adolescência — sem saudosismo.
Eu não tinha muita coisa na cabeça que realmente valesse a pena.
Havia, sim, além dos traumas e marcas da infância, preocupações com as espinhas, com a escola, roupas, a próxima banda que viria ao Brasil e muitas outras futilidades.
Havia também um quê, um certo ar de “sem noção”, somado a vários problemas de comportamento (consequência de traumas). Até aí, tudo bem comum entre adolescentes.
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Comecei a trabalhar aos 18 anos por opção, não por necessidade.
Mesmo assim, pensava apenas no dia do pagamento.
Eu ainda não tinha filho, marido ou casa para sustentar.
Vendi purificadores de água Europa, porque eu achava que precisava "aprender a trabalhar", "aprender a vender". À noite fazia cursinho pré-vestibular.
Quando passei no vestibular da FAAP, para Artes Plásticas, continuei trabalhando durante o dia, e já estava fazendo meu "début" em feiras de negócios, como desenhista e projetista de estandes em uma montadora no bairro do Brás, em São Paulo.
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Precisava do salário apenas para cobrir necessidades pessoais, pois a faculdade meu pai pagava.
Nessa época, eu tinha casa, comida e roupa lavada — literalmente.
Eu morava com a nova família que meu pai havia “arrendado”.
Família que também seria minha por cerca de seis anos.
Para contextualizar é necessário dizer que meu pai, além de adquirir uma nova família, também havia me “comprado” da minha mãe (isso mesmo minha mãe me negociou, na minha frente). Eu fui uma pechincha — produto de segunda mão.
Pura rabutaia*.
Lembro-me até hoje da negociação na mesa do quiosque, do sítio em Atibaia: só faltou nota fiscal. Enfim, ali, era o fim de mais um ciclo.
Abrindo uma "aspas" na reflexãoAcho que ambos, eu e meu pai, éramos sedentos por um lugar de descanso, refrigério, carinho, respeito e amor.Por isso, ele se rendeu à aventura e à emoção de viver uma nova história. E eu, ‘incorporada’ à nova família (por falta de opção), tive a chance de novamente me sentir segura.Com nova mudança, novamente repentina, ganhei tudo novo: roupas, cama, escola, irmãos, mãe — o kit completo.Mais uma vez, eu passava por uma grande mudança, uma virada radical.- De Atibaia de volta pra São Paulo.- De um sítio no meio do mato para voltar ao apartamento na Bela Vista (onde nasci e vivi até os 9 anos).- De uma escola no interior para uma escola de classe média alta.Porém com alguns detalhes:- Eu estava de volta, morando no apartamento onde eu nasci, e descobri que o "meu" quarto já estava ocupado. Eu passaria a ocupar o lugar da beliche (a cama secundária, que normalmente recebe visitas).- Eu estava de volta à São Paulo, mas não estava voltando para o colégio de onde saí, o Lycée Pasteur. Eu estava voltando para agora, me enquadrar no que poderia ser oferecido igualmente para 3 filhos.
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Como toda mudança, exigia um tempo de adaptação — e esse tempo coincidiu exatamente com a minha fase adolescente.
Pior, impossível.
Eu era um caldeirão de sentimentos, e a maioria deles era ruim.
Tudo fervia em mim.
Mas havia algo importantíssimo — fundamental — que eu desconhecia:
eu acreditava que, para viver o novo, seria necessário esquecer o passado.
Apagá-lo, literalmente.
Foi aí que me enganei.
Somente depois de muitos anos descobri que o passado não se esquece — se perdoa.
Naquela época, eu ainda não compreendia que cada mudança trazia também uma lição.
Só anos depois entendi que o verdadeiro recomeço não está em trocar de lugar, de casa ou de família —
mas em se reconciliar com o passado.
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Se você deseja escrever uma nova história, ou recomeçar algo em sua vida, não faça isso acreditando ser possível “passar uma borracha” no passado.
O passado não se esquece.
Não é possível esquecê-lo.
Todo passado imprime em nossas almas as emoções que sentimos — sejam boas ou ruins.
As boas nos fazem bem, claro.
Mas as negativas podem amargar o futuro.
Tudo o que sofremos — e tudo o que ainda sofreremos — ficará registrado em nosso “HD sentimental”.
Não há como apagar; é sensitivo, é cinestésico.
Sentimentos como medo, angústia, raiva, ódio, ciúme, solidão e tristeza fazem um tremendo mal ao ser humano.
Grudam em nossas almas como cracas no casco de um navio.
A única forma de anular o efeito dessas emoções negativas é ressignificar, imprimir novos padrões de sentimento — e o melhor deles é o sentimento gerado pela prática do perdão.
Não esqueça.
Apenas perdoe.
Todos necessitam de amor, perdão e compaixão.
Todos necessitam de graça e esperança.
Medite sobre isso — e fique em paz.
![]() |
| Que cada carga negativa que tenha brotado em você possa transformar-se em um novo sentimento. Um sentimento como o da flor-de-lótus — conhecida pela longevidade de suas sementes, que podem germinar até treze séculos depois. |
Os bons sentimentos perduram e atravessam gerações,
produzindo continuamente frutos de paz, amor, graça e esperança.
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* rabutaia - termo regional para "sobra" ou "resto"
