Passado ruim não se esquece, se perdoa.

Dedico essa reflexão às pessoas que um dia desejaram um recomeço, uma nova história. Essas linhas foram escritas para os dispostos à abrir mão do seu próprio Eu, do seu ego. Se você engravidou, gerou e deu à luz à alguns sofismas, quebre-os hoje. 


Me lembro dos tempos de adolescência sem saudosismo. Eu não tinha muita coisa na cabeça que valesse a pena. Havia sim, além de traumas e marcas da infância, preocupações com escola, roupas, garotos, além de muitas outras futilidades. Havia também um "que", um certo ar de "sem noção", além de muitos problemas de comportamento; até aí, tudo bem comum entre adolescentes. 

Comecei a trabalhar com 18 anos por opção, não por necessidade. Mesmo trabalhando, eu pensava apenas no dia do pagamento. Eu ainda não tinha filho, marido ou casa para sustentar. Comecei vendendo purificadores de água Europa (por sinal, tremenda roubada) e fazia cursinho à noite. Quando passei no vestibular da FAAP, para artes plásticas, eu continuei a trabalhar de dia, fazendo meu début em feiras de negócios, como desenhista e projetista de estandes.  Precisava do salário apenas para pagar algumas necessidades pessoais. Nessa época, eu tinha casa, comida e roupa lavada; literalmente. Eu já morava com a família nova que meu pai havia arrendado. Família esta, que também foi minha por cerca de 6 anos. Meu pai, além de adquirir uma família nova, também havia me comprado; só que no meu caso, eu fui uma pechincha, produto de segunda mão. Pura rabutaia. Me lembro até hoje da negociação; só faltou nota fiscal. Enfim.

Ambos, éramos sedentos por um lugar de descanso, refrigério, carinho, afago e amor, por isso nos rendemos à aventura e à emoção de viver uma nova história; era a única oportunidade de felicidade e amor. Ganhei tudo novo. Roupas, cama, escola, irmãos, mãe, o kit completo.  Mais uma vez, eu passava por uma tremenda mudança. Mais uma virada radical. De Atibaia, para São Paulo. De um sítio de 80 alqueires, para um apartamento na Bela Vista. De uma escola de caipiras, para uma escola de mauricinhos. Como toda mudança, era necessário um tempo de adaptação e esse tempo ocorreu exatamente na minha fase adolescente. Pior impossível. Eu era um caldeirão de sentimentos, e em sua grande maioria, eram todos ruins. Tudo fervia em mim. Mas havia algo importantíssimo, fundamental; algo que eu desconhecia. Eu pensava que seria necessário esquecer o passado, apagá-lo literalmente, para que eu pudesse viver o novo. Foi este o momento do engano. Somente depois de muitos e muitos anos, eu descobriria que o passado não se esquece, se perdoa. 

Se você quiser escrever uma nova história, se quiser recomeçar algo em sua vida, não faça isso pensando ser possível esquecer o passado, ou como se diz "passar  uma borracha". O passado não se esquece. Não é possível esquecê-lo. Todo passado imprime em nossas almas, as emoções que sentimos, sejam estas, boas ou ruins. As emoções boas  nos fazem bem, é claro, porém as negativas podem amargar nosso futuro. Tudo o que sofremos e tudo o que ainda sofreremos, um dia, ficará registrado em nosso "HD sentimental", não há como esquecer, é sensitivo, cinestésico.  Sentimentos negativos como medo, angústia, raiva, ódio, ciúme, solidão e tristeza fazem um tremendo mal ao ser humano. Grudam em nossas almas como craca em casco de navio. A única maneira de anular o efeito dessas emoções negativas é imprimindo novos padrões de sentimento, e o melhor deles, é o sentimento gerado pela prática do perdão. Não esqueça, apenas perdoe.


Todos necessitam de um amor perfeito, perdão e compaixão. Todos necessitam de graça e esperança. Medite sobre isso e fique na paz.



Que cada carga negativa que tenha brotado em ti, possa produzir um novo sentimento. Um sentimento comparado à flor-de-lótus, também conhecida pela longevidade de suas sementes, que podem germinar após 13 séculos.
Todos os sentimentos bons perduram e "atravessam" gerações,
produzindo continuamente frutos de paz, amor, graça e esperança.